O homem público que usa temas como ética e decência para pavimentar a carreira política, tem o dever de exercitar os valores defendidos em sua vida particular. Caso viva diferentemente do que apregoa como bandeiras de luta, é falso tudo o que diz.
Pelo país, sabemos, há arautos da moralidade construindo falsas biografias, exatamente por venderem imagem de bons mocinhos sem cuidar da verdadeira personalidade, na vida real.
O caso do áudio postado no Youtube com suposta voz do deputado federal Arnaldo Jordy, e reproduzida aqui no blog, induzindo uma moça a proceder aborto, é um desses casos em que não cabe justificativas – como já estão se esforçando uns e outros por aí -, condenatórias a publicação do mesmo como agressão à vida privada do parlamentar.
Arnaldo Jordy construiu, ao longo dos anos, imagem de político “íntegro, ético e decente”, só que na vida real, isso não tem sido demonstrado.
Por ocasião do plebiscito pela criação dos Estados de Carajás e Tapajós, caiu no Youtube (também no Youtube, como agora), entrevista de Jordy concedida à televisão de Marabá favorável à criação do Estado de Carajás.
Em Belém, Jordy se dizia contra.
Agora, aparece esse vídeo no qual a suposta voz do parlamentar tenta forçar uma ex-namorada à prática criminosa de aborto, negando-se a assumir o filho.
Se o áudio for comprovadamente originário da boca de Arnaldo, é mais um ato camaleônico dele à serviço da “ética e da decência”.
Não se pode fechar os olhos à lógica de que o homem público tem que ter traços de personalidade iguais, no privado e fora dele.
Não cabe aqui o papo furado de uso da publicação do áudio porque é ano de eleição e Jordy é competitivo candidato à prefeitura, tampouco o bordão de que ninguém tem o direito de entrar na vida privada de ninguém.
Do momento em que as redes sociais detonam determinadas situações, comprovadamente expostas ao domínio público, temos o dever de repercuti-las, caso o personagem seja homem público e, principalmente, cotado a disputar uma prefeitura, com possibilidade de vitória.
Todo mundo sabe: não basta César dizer ser honesto. Precisa ser honesto.
Ética e decência são valores inalienáveis. Quem os usa como slogan de bandeira partidária, tem o dever de provar seu exercício na vida privada.
Ao forçar a barra diante da moça no sentido dela usar o aborto como solução à gravidez indesejada, supostamente por ele, Jordy revelou caráter macunaímico: ao distinto público, defende o respeito às leis, caça pedófilos, exige respeito à ética e à decência; nas alcovas, o jeito malandro, malemolente, artimanhoso, armadilhoso, jogando às favas qualquer tipo de escrúpulo.
Caráter tão verossímil como a dos anti-heróis, marginal à sociedade, cujas estratégias são a trapaça e a representação.
A aventura inseparável da trapaça; o parecer prevalecendo sobre o ser; o disfarce, a mutação.
Se for comprovadamente a voz de Jordy, o fato é bem vindo.
Belém não merece ser mais administrada por políticos de falsos discursos.
E, olha, extraindo raras exceções, o que tem de candidato camaleômico habilitando-se para tentar segurar a prefeitura da capital….
Belém não merece mais isso.
Alan Souza
3 de maio de 2012 - 11:18Ótimo texto, Hiroshi! Aplaudo em pé!
Ousaria acrescentar apenas um comentário: se o sujeito não quer ver a vida pessoal dele esmiuçada, então arrume outra profissão que não seja de homem público. Mas se quer ser homem público conforme-se com a ideia de que caráter é um só, não existe quem tenha dois, um para o público e outro para o privado – e que é com base nessa ideia que ele será cobrado…
Obrigado pela presença por aqui, Professor.